segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Super Bactéria - KPC

A bactéria Escherichia coli cultivada em uma placa de petri (stock.xchng)
“A necessidade por novas opções terapêuticas para o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes é reconhecida pela comunidade científica", explica Ana Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O alerta sobre o aparecimento de uma superbactéria resistente a quase todos os antibióticos e capaz de se espalhar pelos países do globo suscitou o medo do surgimento de uma nova pandemia – poucos dias após o anúncio da OMS sobre o fim da pandemia de gripe A (H1N1). Especialistas consultados por VEJA.com acreditam que a situação merece atenção, mas não há necessidade de alarmismo e mudanças no cotidiano das pessoas. “É preciso esclarecer para a população que o conceito de ‘super’ bactéria não quer dizer que é uma bactéria capaz de destruir tudo e deixar todos doentes. É um termo que utilizamos para explicar que é uma bactéria resistente a antibióticos”, explica Luiz Fernando Aranha Camargo, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Em artigo publicado pela revista científica Lancet na quarta-feira, um grupo de cientistas chamou a atenção para o isolamento de um gene (NDM-1) em dois tipos comuns de bactérias - Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli (E.coli). Essa mutação é responsável por tornar as duas bactérias resistentes aos principais grupos de antibióticos, os carbapenens – normalmente utilizados como última tentativa em tratamentos de emergência em pacientes em que os antibióticos não fazem mais efeito.
De acordo com os cientistas britânicos, as bactérias foram levadas ao Reino Unido por pacientes que viajaram à Índia e ao Paquistão para a realização de cirurgias eletivas (cirurgias que podem ser agendadas), inclusive estéticas. “É uma bactéria que pode viajar por causa da globalização, mas ela é transmitida dentro de um ambiente hospitalar”, explica Camargo.
Segundo Ana Gales, professora de infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o grande problema de infecções causadas por bactérias como essas é que geralmente “restam pouquíssimas opções terapêuticas”. Há uma disponibilidade bastante restrita de drogas para o tratamento de infecções por bactérias resistentes e faltam estudos na área para saber sobre a eficácia delas.
“A necessidade por novas opções terapêuticas para o tratamento de infecções por bactérias multirresistentes é reconhecida pela comunidade científica. Tanto que existe uma iniciativa da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, que resumidamente sugere que os governos americano e europeus se comprometam no desenvolvimento de pelo menos novas dez drogas antimicrobianas até 2020”, explica Gales.
Prevenção – Em tese, o controle da resistência bacteriana é simples: pode ser feito a partir do o uso de luvas e aventais, até a simples higienização das mãos. A dificuldade é que nem sempre as orientações são seguidas. “A resistência bacteriana é um problema de saúde pública. Qualquer pessoa pode ser vítima de um acidente, ou ter câncer, necessitar de internação hospitalar e acabar adquirindo uma bactéria multirresistente”, diz Gales.
Para Camargo, os hospitais precisam ficar atentos ao alerta emitido pela Lancet. “Os hospitais precisam atualizar seus mecanismos para que estejam prevenidos quando essas bactérias chegarem ao país”, afirma.
Laboratorista do laboratório de micro biologia do Hospital Albert Einstein manipula placa de cultura da superbactéria A Secretaria Estadual de Saúde informa que não foi notificado nenhum surto de Klebsiella pneumoniae Carbapenemase (KPC) e que desconhece casos isolados porque o problema ainda não é de notificação compulsória.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deve tornar a notificação obrigatória a partir de sexta.
A Folha apurou que em dez hospitais públicos e privados de São Paulo houve o registro de ao menos 90 casos da KPC, desde o início do ano. No Edmundo Vasconcellos, por exemplo, houve nove casos, com três mortes. No Sírio-Libanês, foram cinco casos, no Oswaldo Cruz, três, e no Albert Einstein três.
No momento, o maior foco de infecção está no Distrito Federal, que contabiliza 15 mortes e 135 casos confirmados. Ontem, o ministro José Gomes Temporão disse que, pelas informações da sua pasta, só havia casos em hospitais de Brasília.
No comunicado, a secretaria reforçou as medidas de prevenção para evitar a proliferação dos casos não só da KPC mas de outras bactérias superresistentes. Entre elas, está o isolamento de pacientes sem os sintomas da infecção, medida já tomada por alguns hospitais, como Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz.
ISOLAMENTO
A regra é clara: pacientes que estão internados há muito tempo (dentro e fora da UTI) ou que usam vários tipos de antibiótico devem fazer exames para a detecção da KPC, mesmo sem sintomas da infecção.
Se a KPC estiver presente, o paciente é isolado em um quarto até obter alta. Sem os sintomas, não há recomendação de tratamento com antibióticos, basta monitorar o paciente, diz o infectologista Luiz Fernando Aranha Camargo, do Einstein.
No Oswaldo Cruz, se o paciente vem de outro hospital, ele é automaticamente isolado. "Ele entra em isolamento independentemente da condição de portar ou não a bactéria. Depois, a gente avalia a necessidade de manter o isolamento", afirma Gilberto Turcatto, infectologista.
O paciente permanece "fichado" mesmo depois da alta hospitalar. Se ele voltar a ser internado, ficará isolado até que novos exames comprovem a ausência da KPC.
Segundo Maria Beatriz Souza Dias, infectologista do Sírio, além do isolamento, há uma série de precauções adotadas, entre elas a sinalização de quartos e objetos usados pelo paciente, para evitar que profissionais da saúde levem a bactéria para outros locais do hospital.
Para o infectologista Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos, a grande preocupação reside na maioria dos hospitais públicos que não têm nem comissões de infecção estruturadas nem laboratórios de microbiologia capazes de isolar a bactéria. "Tem muito lugar que nem sabe se a bactéria está circulando ou não."






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